Salete observou a mulher loira e alta, trajando um casaco vermelho sentar diante dela, se apresentando como Tuquinha Vasconcellos. Estendeu-lhe a mão branca de dedos cheios de anéis muito brilhantes.
- Prazer...Salete - se apresentou, retribuindo ao gélido aperto de mão.
- Bem, Celeste... você tem experiência como doméstica?
- Tenho, sim senhora...
- Senhora está no céu, hein? Quantos anos acha que eu tenho?
- Não sei, não senhora...
- Já mandei não me chamar de senhora! Vamos, diga minha idade!
- É... bem... acho que uns quarenta e cinco...
- Que horror!!! eu ainda nem fiz quarenta! Pareço tão acabada assim? quantos anos você tem? 20?
- Vinte e dois, senhora.
- Afe... vamos mudar de assunto. Você sabe cozinhar, lavar, passar?
- Sim, faço isso desde os nove anos.
- Possui referências? Isso é muito importante, Celeste.
- Sim, senhora. Aqui está a carta assinada pela minha ex-patroa. Saí do emprego porque o marido deixou dela e aí a coitadinha não teve condições de continuar me pagando.
- Ora, ora... chegamos aonde eu queria... Por que o marido dela a abandonou?
- Acho que arrumou outra mulher na rua, não sei bem.
- Sabe, Celeste... eu tenho uma teoria de que... se o homem estiver satisfeito com o que tem dentro de casa, não vai procurar fora. Concorda?
- Dizem que sim, Dona Tuquinha.
- Pois então... estou disposta a oferecer uma quantia razoável "por fora" para que você satisfaça meu marido alguns dias na semana. O que você acha?
- Eu não sou dessas, Dona.
- Ora... menina. Deixa de ser boba. Olha, é 500 reais a mais, hein?
- 500?
- Sim. E ele já tem uma certa idade, não vai te procurar toda hora.
- Não sei... mas por que a senhora quer atirar seu marido nos braços de outra? Eu, hein! rico tem cada uma...
- Afe... você não é "OUTRA", se enxerga! Você uma serviçal. Meu marido nunca abandonaria o lar por causa de uma serviçal. Menina, você precisa alcançar o meu nivel de raciocínio.
- Está bem, eu aceito, Dona Tuquinha. Pelos 500.
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Em menos de um ano, Salete e o ex-patrão (agora noivo) curtiam férias nas Bahamas. sempre ria com desdém, quando lembrava dos míseros 500.
Ükma. Ilustração: Mário Alberto.
Um comentário:
Pitoresco.
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